segunda-feira, 6 de maio de 2013

INSTANTÂNEOS - IV



Era uma verdadeira manhã de primavera: fresquinha, solarenga, um rouxinol cantava – e como o rouxinol ninguém canta -, a caminhada tinha começado há minutos. A conversa ia animada à conta de variados temas banais e filosoficamente despretensiosos.  Sãozita acabaria por merecer a melhor atenção quando anunciou que quando era gaiatita, tinha sido vendida pelo seu irmão.

Parece que um tal “bicha” (leia-se “bitcha”), outro gaiato lá da aldeia se embeiçou pela pequena Conceição. A sua estratégia de aproximação à mocita passava por conquistar  a cumplicidade do mano mais velho, a quem ensinou  onde estava um ninho de cotovia, oferecia marouva que roubava, até presenteou com meia dúzia de berlindes. O cachopito, porém, não atribuía o mesmo valor aquele tipo de mimos. Precocemente imbuído do espírito capitalista, ele viu ali uma oportunidade de negócio e, inspirado pela visão do gelado de groselha que poderia comprar com o dinheiro, tratou de vender a irmã ao tal “bicha” por … vinte cinco tostões.

Confrontado, e após alguma insistência, Xquim Branco lá reconheceu que a sua esposa vale bem mais.