quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Da nossa porta a Santiago - Impressões II - E o povo pá!

Assumamos a heresia: o caminho não se faz apenas caminhando (perdoname António Machado). Para nós, o caminho faz-se caminhando, sim, mas também, conversando, comendo e bebendo, visitando, mirando (se calhar também era isso que querias dizer, não era António Machado?)…, enfim, faz-se com tudo a que temos direito.

E tivemos direito a estabelecer contacto com um variado conjunto de pessoas com as quais tropeçámos ao longo de 24 etapas e de mais de 540 quilómetros. Gente do povo, simples, dignos de referência, só porque nos ofereceram uma palavra simpática, uma saudação, um copo.




Afirmemo-lo categoricamente: o povo português é sereno, é simpático, é hospitaleiro, é generoso. É sim senhor! Ao longo desta fabulosa jornada, tivemos oportunidade de contactar e confraternizar com um número considerável de autóctones, cujas expressões de simpatia foram da simples saudação e mesmo breve conversa até à degustação de produção vinícola própria.




Cada vez que cruzávamos uma aldeia, nos sentávamos no café ou no adro da igreja, que encontrávamos um casal de anciãos na sua carroça puxada por dócil e amansado jerico, tropeçávamos com a viúva de balde dependurado no antebraço a caminho da horta, emergia uma certa reciprocidade centrada na curiosidade: do nosso lado, dava-nos gozo a recolha de informação sobre a terra, os costumes, a pessoa, o seu linguajar, em troca, fazíamos questão de provocar o seu espanto com informação sobre o nosso desiderato.









Em Famalicão da Serra acedemos, sem esforço, à insistência para saudarmos o pipo do Ti António; em Fernão Joanes valorizámos o excepcional sentido visionário e dinâmico do Presidente da Junta Daniel Vendeiro (autor da ideia pioneira da transumância, responsável pela integração da pista de motocross local no circuito nacional), bem como as broas de milho com que nos presenteou; em Trancoso, ajudámos a animar a feira medieval, assim como a feira da maçã de Moimenta; em Benvende, trocámos impressões molhadas com o Ti Daniel, o seu tinto e porto caseiros; em Lezírias, por pouco não nos juntámos ao almoço comunitário que os locais prepararam para aquele dia, mas enriquecemos a nossa cultura gastronómica com a prova da galinha (cebola regada com vinho tinto e uma pitada de sal), e, também, gostámos de conhecer o rei da noite local.






Em Sande, o Ti António foi generoso a regalar-nos como seu vinho generoso na sua magnífica adega, situação repetida pelo Ti José perto de Sedielos; o rockeiro dono da Taberna das Comadres em Amarante ainda hoje, foi-nos dito, exibe na parede do estabelecimento o sketch que o Carlos Matos riscou na toalha de mesa; ainda em Amarante, sensibilizou-nos a atitude da Alexandra, Luís e Daniel da Associação Viver Canadelo e Serra do Marão que nos apoiaram e conduziram; em Serzedelo, juntinho ao Vizela, tocámos, cantámos e bebemos com a Ti Conceição; enfim, até fomos abençoados pelo Padre Nelson em Telões na sua igreja do sec. XIII.






























O bom povo português, pá!