terça-feira, 28 de julho de 2015

INSTANTÂNEO XIV

“Podemos não saber a razão porque fazemos o caminho, mas de certeza que temos uma”, decretou um filósofo de mochila às costas. Entre muitas outras, a perspectiva de encontrar gente de outras latitudes e estabelecer conversa, foi (é) uma das mais valorizadas motivações para se fazer o caminho. Isto é absolutamente verdade para estes peregrinos albicastrenses mas sê-lo-á seguramente também para muitos dos que abraçam esta extraordinária aventura de rumar a Santiago.

Não se perde uma oportunidade de interacção com qualquer um ou qualquer uma, velho ou nova, na língua mais a jeito. A entreajuda, essa, é uma obrigação sagrada. Um peregrino está sempre disponível para ajudar outro peregrino. Incondicionalmente. Assim deve ter sido ao longo dos séculos, desde que os druidas celtas se meteram a buscar o fim da terra para aí orarem ao deus sol, continuado na cristianização do movimento desviado para Compostela, partilhado e alimentado tanto por reis como Alfonso II ou a nossa Santa Isabel, como pelo humilde servo da gleba actual.

Zé Manel comunga, por excesso e por defeito, de personalidade e profissional, respectivamente, desse ancestral e verdadeiro espírito de acudir a qualquer um que necessite.

Aconteceu que - algures entre Pontevedra e Caldas del Rey - foi chamado a acudir a duas vistosas jovens que nele anteviram a imagem de um qualquer messias salvador. Parece que os dentes metálicos do fecho-eclair da mochila tinham cariado e não corriam no cursor. Parece que elas vinham pela arte e engenho de Zé Manel na esperança que ele encaixasse adequadamente os dentes do fecho-eclair da mochila.

Não há qualquer evidência que Zé Manel tenha entendido o que as duas beldades pretendiam dele, considerando a rudimentaridade do seu inglês. A verdade é que, Zé Manel, num tom entre o meloso e o provocatório, não hesitou:


- Ó meninas… eu tenho tudo o que vós precisais…


Sem comentários:

Enviar um comentário